terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O brasileiro da nova classe média do Brasil.

Dois grandes pilares sustentam um país saudável, forte e maduro. O pilar social (uma sociedade livre, com democracia vigorosa, poderes independentes e liberdade de opinião) e o econômico (liberdade plena do mercado, uma relação justa entre impostos pagos e o que se recebe de retribuição por ele, uma distribuição de riqueza que dê aos mais pobres uma razoável qualidade de vida e uma classe média poderosa).

Dos aspectos relacionados acima, aquele em que o Brasil mais demorou a progredir foi em relação à distribuição da renda. O contingente de miseráveis era grande e não diminuía. A maioria da classe trabalhadora ainda muito preocupada em manter suas condições básicas de vida. Sobrava uma classe média era minoritária, sem força e sem poder.
Mas a classe média cresceu, mudou e está pronta a assumir o comando. Segundo o economista e chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV-RJ, Marcelo Neri , a composição deste extrato social incorporou uma grande parcela que pertencia à classe C e soma hoje 52% da sociedade brasileira. Sinal de grandes mudanças pela frente.

Com o sucesso do Plano Real, estacou-se uma espada no peito do maior e mais perverso de todos os impostos: a inflação. A herança bendita da estabilidade econômica advinda dos dois mandatos de FHC, estimulada com uma fase de grande crescimento da economia global e o aumento do poder de compra potencializado pelo ousado e corajoso ato de instituir um programa de distribuição de renda direta, redundaram no atual momento de otimismo que o país vive. Vivemos um choque de capitalismo.

Durante a última década, assistimos ao fenômeno chamado por Neri de “O Segundo Real”, pois, ao apostar na estabilização e dar escala aos programas sociais de seu antecessor, Lula tirou da pobreza 19,3 milhões de indivíduos e alavancou outros
32 milhões na pirâmide social.

As classes C e D passaram a consumir itens antes dados como supérfluos e que estariam fora de cogitação para seus salários e bolsos. Empresas já focadas nesse segmento passaram a produzir produtos “genéricos”. Foi um boom de novas marcas no mercado, preconceituosamente chamadas de ‘marcas talibans’. O passo seguinte foram as grandes empresas perceberem a nova oportunidade. Marcas como Dove e tintas de cabelo das marcas líderes de mercado, como Wella e Loreal, passaram a ser consumidos por diaristas e donas de casa com grande frequência.

Mas o caso mais impressionante é o da Nestlé. Tradicional empresa suíça presente no Brasil desde 1921, produtora de itens de grande qualidade e high price, a Nestlé se reinventou para fazer do Nordeste e dos novos consumidores sua força para uma nova arrancada no mercado brasileiro. Investiu R$ 100 milhões em uma nova fábrica e centro de distribuição em Feira de Santana - BA. Mudou tamanho de produto (biscoitos líderes como Negresco e Bonno de 200g passaram a ser vendidos com 140g), trocou embalagens (a lata de Nescau de 400g virou sachê de 230g), adaptou produtos (Nescafé foi redesenhado para ser um café mais suave, lançado com o nome de Dolca) e lançou produtos específicos para a região (como o leite em pó popular Ideal). Hoje o Nordeste representa 30% das vendas da Nestlé no Brasil e o crescimento permanece na casa do dobro da média do país.

Com o aumento do consumo, outra questão de debate da sociedade foi o consequente endividamento destas classes menos abastadas. Segundo pesquisa do CNI/Ibope, 34% dos entrevistados da nova classe média disseram que precisaram se endividar para cobrir gastos nos últimos 12 meses. Muitos criticam este fenômeno, mas defendo que ele é Intrínseco ao processo de crescimento de qualquer país.

O crédito como alavanca para o aumento de qualidade de vida do brasileiro ainda é muito mal visto, especialmente pelos quase 20 anos de inflação descontrolada do país. Pagando um juros exorbitante mais a correção monetária, era impossível sobreviver a um financiamento. Mas também nesse item, estamos entrando numa rota mais aceitável. O crédito popular e abundante é uma importante forma de melhorar a qualidade de vida do brasileiro de baixa renda.
E os sinais atuais são estimuladores: caem os índices de inadimplência no Brasil.

Essa conjuntura de um mercado interno aquecido e disposto a virar a mesa, foi fundamental para que o Brasil saísse da crise mais rapidamente. O mercado interno é que está fazendo a diferença. Aqui e na China.

E essa nova classe C causa algum impacto na próxima eleição? Certamente que sim. Na próxima e em todas as próximas. Da nova realidade econômica brasileira emergirá um novo eleitorado, mais objetivo e com maior clareza daquilo que deseja. Um eleitor menos ignorante e manipulável. O eleitor que vai tornar esse país uma grande potência na próxima década.

A classe média é protagonista das mudanças sociais. Até porque é quem mais paga por elas. Segundo o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), esta maioria da sociedade trabalha cerca de 272 dias por ano para pagar impostos e serviços básicos, como educação e saúde (e não recebem!!!). Segundo o cientista político, Antônio Lavareda, em entrevista concedida para o Meio & Mensagem em janeiro deste ano, é possível que esta nova classe média mimetize o comportamento das classes diretamente superiores a ela e "traia" seus antigos valores de classes C e D.


Não é minha aposta. Sou otimista com a vida. Creio que venha por aí uma burguesia razoavelmente bem informada, ligada na tecnologia, de bem com a vida com a globalização, com grande aceitação da diversidade humana, com fé(s), querendo aprender, trabalhadora, dedicada e com nota 10 nos quesitos talento e criatividade. O brasileiro é ainda o melhor produto made in Brazil.

Tks, God!

6 comentários:

  1. Luis,

    Muito tenho ouvido sobre a promessa da classe C, mas considero seu que seu texto foi bem sintético e relevante.

    Gostaria de discutir uma questão contigo: tenho observado que o crédito é um gatilho importante de consumo, não só fazendo a classe C consumir mais, mas também fazendo-a consumir produtos mais caros e direcionados a classes superiores.

    Porém, tenho notado algumas "armadilhas".

    Supondo que uma pessoa compre um carro mais caro, já que a prestação é suportável no orçamento mas, na hora da manutenção ela irá pagar mais caro, acima de suas possibilidades. Isso poderá criar uma bola de neve financiada pelo crédito. Será que isso não irá estourar um dia?

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  2. Espero que a nova classe média seja iluminada e perceba que satisfazer o desejo por mercadorias, dinheiro basta, mas que para assumir solidamente uma nova posição social é preciso ampliar o interesse pela cultura, e essa independe do quento você tinha no banco ontem ou do quento você terá amanhã.

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  3. A nova classe media, para mim, não passa de um sonho, um sonho bom, em que as pessoas dão aquilo que não tem com a esperança de um ressarcimento que não vem nunca. O governo atual apenas deu prosseguimento a uma ideia ja implementada e em vigor e usou os sistemas de ajuda financeira como subterfugio para inibir e principalmente manipular os eleitores futuros.
    Entendo seu ponto de vista e respeito, mas achar que o país vai melhorar tanto financeiramente quanto no fator educação só por alguns ganhos momentaneos é a mesma coisa que acreditar em papai noel: No começo vc escreve cartas, depois vc rasga elas

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  4. meu caro Fábio,
    obrigado pela leitura e pelo comentário. O crédito pode levar a várias desgraças individuais, fruto da falta de controle com a vida. mas na maioria absoluta das famílias são ponderadas no sua utilização.
    A péssima fama deixada na época da inflação ensinou os cidadãos brasileiros a usá-lo com moderação. A maior prova disso é que tão logo a economia começou uma retomada o nível de inadimplência e de cheques sem fundo caiu consideravelmente.
    Não podemos tirar esse importante mecanismo de melhoria das condições de vida das classes mais populares. É a mecânica do sistema capitalista diminuir as diferenças sócio-econômicas.
    Abs, LG

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  5. "É a mecânica do sistema capitalista diminuir as diferenças sócio-econômicas." Sério? historicamene o capitalismo tem se mostrado um grande monstro devorador de recursos de diversas ordens. Fico triste em saber que o mundo só pensa no lucro ou coisas do gênero! a vida poderia ser melhor que comprar e vender. Isso não me motiva!

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  6. RECOMENDO DOIS ÓTIMOS DOCUMENTÁRIOS SOBRE O TEMA >> "CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR" DO DIRETOR MICHAEL MOORE; E O FAMOSO A "CORPORAÇÃO". NESSES FILMES SE VER A VERDADEIRA FACE DESSE SISTEMA!

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